domingo, 1 de outubro de 2017

A construção do território de Amsterdam numa visita ao Castelo Muilderslot

A entrada do Castelo Muilderslot com seus torreões e pótico de entrada com ponte elevadiça e fosso. Fortificação clássica da Idade Média, razão pela qual o castelo é muito usado em filmes e series de TV.
Voltamos ao século XII: o território que hoje está Amsterdam é uma área alagadiça entre os rios Amstel (que dá o nome a cidade - Amstel damme - dique do rio Amstel) e o Schinkel, que fora ocupado por pescadores vindo do norte (Frísia) que resolveram ficar por ali mesmo, pois era uma área aparentemente boa para um porto, já que ficava numa baía que se formou depois que o Zuiderzee (lago que ficava na área central do que hoje é os Países-Baixos) foi sendo alagado desde o século V, principalmente pelo aumento do nível do mar, alterando radicalmente a geografia dessa parte da Holanda e obrigando-os seus habitantes a desenvolverem duas tecnologias que os tornaram célebres: os diques e os polders. O primeiro para conter e controlar o nível da água e o segundo que se utiliza do primeiro para gerar grandes áreas de agricultura.

Esse mapa bem num estilo medieval mostra o território dos Países-Baixos naquela época. Amsterdam é a "irmã mais nova" das principais cidades dessa nação, datada de 1275 já no séc. XIII (ao Sul, Utrecht, é do séc. VII e ao Norte, Haarlem, é do séc. X, e ambas já eram povoadas na época do Império Romano; Arnhem, mais ao Lests, é do séc. IX e Rotterdam, ao Oeste, é do séc. X).
Enfim, protegidos no fim do Zuiderzee e com saída garantida para o Mar do Norte, esse povoado foi crescendo e no séc. XIII ganha o status de cidade ao consquistar o direito de não pagar impostos para usar suas pontes, dando início a uma tradição de liberdade, tolerância e comércio. No mapa acima se vê o território do que um dia seria os Países-Baixos como era na Idade Média: bem ao norte o território da Frísia, de onde vieram os fundadores da cidade, ao Leste, a Holanda, (dividida entre Holanda do Norte e do Sul) Utrecht e Gelderland ao Oeste. A grande porção de água no meio é o Zuiderzee, que garantia a Amsterdam uma saída segura para o Mar do Norte e para o comércio, fator de grande importância para sua Idade de Ouro no séc. XVII.
Minha sobrinha correndo para nos alcançar há 10 anos atrás: ficou distraída com as armaduras no pórtico de entrada e hoje é uma adolescente.
O Castelo Muilderslot é bem desse período: sua primeira construção data de 1280 e sua reconstrução de 1370. Era mais utilizado como posto de "pedágio" para os mercadores de Utrecht (uma das mais importantes cidades da época) que precisavam descer o Rio Vecht para chegar no Zuiderzee e sair para o Mar do Norte, e por isso, quando as cidades se desintendiam, usado para defesa tanto dos exércitos de Utrecht como de Gelderland, mais ao Oeste, que tentou por um tempo controlar esse território estratégico. No séc. XVI virou residência de verão de um grande poeta holandês; no séc. XVIII, tornou-se prisão; foi abandonado e iria ser demolido quando o Rei William I interviu e após muitos anos foi tansformado num museu temático, bem interativo, da Idade Média, parte do Rijksmuseum (Museu Nacional) dos Países-Baixos, onde as crianças, e adultos, podem se divertir bastante enquanto aprendem a história dessa cidade, e país, tão fascinante.

Meu cunhado, as pequenas gêmeas e minha esposa no antigo poço do castelo.
Mas seguindo a história, depois de se estabelecer como porto mais importante da Holanda, Amsterdam, assim como suas cidades vizinhas, era parte do Sacro Império Romano (da disnastia dos Habsburgo, de Carlos V, que mandava na metade da Europa, incluindo a Espanha) e já muito influênciada pelo Calvinismo e com ambições de liberdade. Assim, em 1579 rompeu com o Império na União de Utrecht, iniciando, aí, uma serie de conflitos que deflagam a Guerra dos 80 anos entre Espanha (já sob poder de Filipe II, filho de Carlos V) e os nascente Países-Baixos. Essa guerra repercute aqui. (lembram da invasão holandesa no Brasil, então, é nesse período, pois Portugal era parte da Espanha)

Acima, o bobo da corte... além dessa vestimenta, podia experimentar a de nobre, servo, etc...
As gêmeas num duelo de cavalaria medieval. O museu é interativo, existem vários "brinquedos" onde as crianças e adultos se divertem.

Uma bela veste mediavel com o clássico leão que é o símbolo da Holanda.
Mas sem alongar essa parte, o que importa é que com a independência, Amsterdam se torna cada vez mais uma cidade aberta, de forte comércio, para onde judeus e protestantes perseguidos nos seus países procuram abrigo e encontram lá um porto seguro, fazendo-a ser conhecida como a Veneza do Norte, que era a cidade mercantil mais importnate do período, também reconhecida por sua tolerância e diversidade, além dos canais. Nesse período a vive seu período de ouro, e este pequeno país cria a maior companhia da história, até então, a Companhia das Índias Orientais, que estabelece colônias por todo mundo.



As pequenas na passarela tentando olhar por cima do corrimão. Percebe-se a tipica construção de edificações medievias, robustas com as ameias e seteiras para os arqueiros e demais unidades de defesa se posicionarem.
Enfim, a Holanda vira uma potência mundial e Amsterdam, por sua posição geográfica favorável e "mente aberta", se torna uma das grandes cidades européias. Passa por alguns períodos difíceis quando a Holanda entra em declínio com a ascenção do que se tornaria o maior império na Idade Moderna, o Britânico e depois com a invasão francesa, por Napoleão. Volta a crescer e se reergue em definitivo após a Segunda Guerra Mundial, quando foi invadida pela Alemanha. Durante esse período foi construído o Canal do Mar do Norte, (1865-76) facilitando o comércio; a cidade se reformou aos moldes de Paris; expandiu-se para o sul, onde Berlage (tema de outro post, mais adiante) grande arquiteto holandês, projetou uma das expansões de cidade mais bem sucedidas até hoje.

No fim do passeio o tio serve de estátua para as sobrinhas se divertirem sobre antigos projétis (bolas de pedra) que eram atirados sobre os inimigos.

No início do séc. XX um enorme dique foi construído no norte do Zuiderzee, criando um lago interior, e depois outro, dividindo esse lago ao meio. Essas construções criaram novos polderes, definindo o território dessa porção da Holanda e provaram-se úteis tanto como defesa das cheias, como sendo reservatório de águas doce para épocas de secas em Amsterdam. Enfim, Hoje é uma metrópole com mais de 700mil hab na cidade e 2 milhões na região metropolitana, uma das maiores economias da Europa e reconhecida por sua tradição de tolerância e comércio. Como disse no primeiro post, Amsterdam é muito além do bairro da luz vermelha e dos coffeshops, eles só são a consequência de uma cidade que se construiu compreendendo as diferenças e achando espaço para a convivência pacífica e civilizada delas.

Ao invés de segregar, incluir: protestantes, judeus, quem estiver sendo perseguido, trazendo "mentes" e "talentos" para seu território - e faz isso até hoje; ao invés de criminalizar, controlar: prostituição, uso de drogas, para pelo menos coibir a exploração e a violência, uma vez que parece impossível evitar tais práticas. É, eles são práticos... curioso, uma cidade que foi fundada por seus colonos, após serem expulsos de Recife, herdou pra valer a primeira característica, a de ser um porto aberto ao mundo. Seu nome: Nova Amsterdam, hoje conhecida como Nova Iorque.

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