terça-feira, 15 de agosto de 2017

Copenhagen... saudades de uma cidade "perfeita"...

Esse é o hall na estação de metrô no aeroporto. Cada estação seguinte era mais bem feita, sempre com uma arquitetura simples, correta. Diferente de outras cidades, Copenhagen é a sofisticação "sem frecuras", ou seja, os dinamarqueses tem um jeito simples mas tudo é muito caprichado, acessível a todos, com informações claras mesmo para um estrangeiro. Qualquer um sente-se bem lá... acho que por isso me agradou tanto.

Minha esposa e eu chegamos a Copenhagen após passar o Ano Novo em Amsterdam na casa da minha irmã. Sempre sonhei em conhecer um país nórdico, os viking fazem parte do meu imaginário desde criança pequena. Assim, a expectativa era grande, aumentando as chances de decepção. Mas não... nã na nã na não... a capital do reino dinamarquês supera qualquer expectativa, é a cidade mais legal que já fui, (superou todas outras, e algumas que considerava imbatíveis) Copenhagen parece perfeita. Para mim, é claro.


O relógio da estação diz tudo: não precisa ostentar "superioridade" tecnológica, cultural, econômica e social, as linhas precisas mostram isso sem ser brega ou exagerado. Parabéns aos vikings!

Ficamos numa pousada muito simples - sofisticada num prédio que devia ser do séc. XVIII adaptado as necessidades e tecnologia atual, como tudo lá. A senhoria, uma enorme mulher da minha altura, porém bem mais larga, nos recebe com grande simpatia... mostra o quarto, a cozinha onde podemos pegar o que quisermos - ou trazer coisas que compramos e estocar ali - e o estar. Ou seja, a cerimônia necessária para que não nos sintamos perdidos e não exagerada para não nos sentirmos incomodados. Ou seja, diferente de outros lugares, não sinto aquela tradicional arrogância europeia, e isso se confirma no resto da estada, nos vários lugares que fomos. Enfim, após nos alojarmos, bati um longo papo com ela, fato que se tornou cotidiano todos as manhãs e fins de tardes.


A senhoria da pousada que ficamos nos disse, bem alegre, que estávamos com sorte pois teríamos um dia quente... e ela tinha razão!
O primeiro passeio, sempre a esmo... saímos a conhecer a cidade. E uma bela surpresa após a outra. Copenhagen é cortada por um canal onde inúmeras obras de arquitetura bem contemporânea foram construídas contratando com os prédios seculares e a orla, todos costurados por excelentes espaços urbanos. Como grande parte são prédios públicos, como a Biblioteca Real, a Ópera de Copenhagen, Museu Real, e outros, pode-se ficar dias caminhado de um lado para o outro, mesmo com o frio de temperaturas negativas e o vento que vem do gelado Estreito de Orsund.


As escadarias - arquibancadas na beira do canal que corta a cidade fazem uma interface muito agradável.

A sofisticação de sempre ao resolver a transição dos passeios na beira do canal para as edificações.

Uma das paradas obrigatórias foi no "Diamante Negro", como é chamada a Biblioteca Universitária de Copenhagen, parte da Biblioteca Real, um prédio inusitado, cortado pela avenida, que liga o rio a um antigo prédio, que guarda o Museu Real. O espaço interno e tão intenso como a forma externa, com um café de primeira e uma livraria que passaria dias lá folheando tanto livro interessante. Enfim, o professor aqui não tem muita grana, então, apenas um café para esquentar e pé na rua.


A Biblioteca Universitária de Copenhagen, parte da Det Kongelige Bibliotek (Biblioteca Real) da Dinamarca, também conhecido o "Diamante Negro". Bela arquitetura que resolve a transição da pré-existência (bem a esquerda - o parte do Museu Real) cruzando sobre a avenida para a margem do canal.
Saímos e ficamos admirando um conjunto de escritórios e docas do outro lado do canal... que bela resolução de paisagem urbana: rio + edificações contemporâneas + igreja secular em harmonia na mesma foto. E imagens assim foram se seguindo por toda orla. Um dia e tanto. E isso não era nem o começo, Copenhagen tinha muito mais para explorar.

As passarelas que unem as duas partes do "Diamante Negro"...
Do outro lado do canal, um conjunto de escritórios e docas - isso mesmo, docas - no Knipeelbrogade Havn (cais de Knipeelbrogade) com a torre da Christianskirke (uma igreja cristã de 1758) ao fundo. Belo contraste rio - edificações com formas puras - igreja rococó. Percebam que há sempre um intervalo entre as partes: 1º plano RIO - intervalo SOMBRA (do recuo) - 2º plano CALÇADA - intervalo SOMBRA (do recuo) - 3º plano EDIFICAÇÕES - intervalo ESPAÇO (em vidro) - 4º plano IGREJA. É esse intervalo que separa as partes que permite a clara leitura, isso é arquitetura bem feita.
Seguimos de volta para a pousada, e nos setores mais antigos, um espetáculo de janelas e portas, em edificações que fazem aquele fundo perfeito para o espaço público, como é comum em cidades tradicionais. Mas como disse, diferente de outros lugares, não é opressivo ou esnobe, são ruas belas e simples, com cafés, lojas, lojinhas, magazines, bares, hotéis, pequenos teatros, escritórios, centros de cultura, escolas, edificações públicas, enfim, não parece um cenário para impressionar, mas uma cidade para viver bem, com sofisticação e simplicidade. Eu ficaria por lá não fosse meus queridos alunos que tanto estimo aqui (neste não tão frio, mas que se passa mais frio) Rio Grande do Sul. Ficaria mesmo.
Passado e futuro, simplicidade e sofisticação, metrópole e província se encontram numa cidade que parece perfeita...
A retornar, de noite, vimos uma manifestação com velas e música numa esquina, perto de um parque, ficamos curiosos, pois não era possível entender dinamarquês... de manhã perguntei a senhoria, pois vi na capa do jornal, de folha inteira, e tive mais uma lição desse pequeno e belo reino. Era uma manifestação porque um jovem de 16 anos, morador de uma periferia qualquer, foi morto por uma "ganguezinha", dessas de adolescentes mais "delinquentes", e todos estavam chocados, afinal, a última vez que algo assim acontecia tinha uns 4 anos... eu disse, tentando esconder minha vergonha, mais ou menos o seguinte: "quem me dera morar num país que coloca a morte de um jovem numa capa de jornal, no meu país isso sai em nota de rodapé..." Ela demorou um pouco a entender, mas acabou compreendendo minha angústia.

Mais de Copenhagen - tem até um excelente museu da Zara Hadid - participe votando...

Próxima parada: Buenos Aires. Uma menina brincando com seu "perro" na praça junto ao MALBA. (Museo de Arte Latino Americano de Buenos Aires) Para resumir costumo dizer que se deve ir pelo menos a cada dois anos a capital de nossos vizinhos "hermanos", caso contrário corre-se o risco de emburrecer... é uma cidade que transpira cultura do café (sempre maravilhoso) da manhã ao vinho antes de voltar para o hotel. Foi num café da manhã, inclusive, onde surgiu as primeiras idéias para o Confusión Lounge... quem sabe faço um post do Confusión também...

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